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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Entrevista com a Escritora Maud Epascolato

Hoje lhes trago um post diferente: Uma entrevista com Maud Epascolato, uma das escritoras mais simpáticas e talentosas que a literatura me apresentou. Conheci a Maud em 2012, quando juntos participamos da antologia "O Último Dia Antes do Fim do Mundo". Daí por diante nos tornamos grandes amigos, e até então trocamos figurinhas literárias. Em 2013 a Maud lançou "Medo do Escuro e Outras Histórias", uma coletânea de contos de terror e suspense que foi um fenômeno de vendas na Bienal do Rio de Janeiro.

Com a Maud, na Bienal de SP (2014)
Após participar da antologia "Conto dos 7" e lançar alguns trabalhos na Amazon, Maud escreveu "A Bruxa do Olho de Vidro", conto recentemente lançado pela Editora Lendari, em uma linda edição de bolso.

Maud e seu filhote

1. Primeiramente gostaria de te agradecer por conceder essa entrevista. A ideia já estava no papel há algum tempo, e finalmente a colocamos em prática! Para começar, fale um pouco sobre o seu conto – ou diria novela? – A Bruxa do Olho de Vidro. O que os leitores precisam saber antes de lê-lo?

A Bruxa do Olho de Vidro é um conto ambientado numa casa abandonada em São Paulo que tem como primeiro ato uma brincadeira de criança, e três crianças como protagonistas. Como é um conto, não é possível dar muitos detalhes, mas o escrevi como uma história juvenil de mistério, mas acredito que atinja outros públicos. Há o elemento sobrenatural, como é comum nas obras que escrevo. 

2. Tive a chance de ler a obra graças a sua camaradagem. (Risos.) Notei que o conto evoca um pouco a atmosfera dos anos 80; um leve quê de obras como “It”, “Conta Comigo” e até mesmo a recente série “Stranger Things”, pelo fato de envolver crianças desvendando certos mistérios... Essa influência “oitentista” é um fato? 

Na verdade, a minha influência foi a minha infância e as brincadeiras de criança. Como passei a infância nos anos 80, faz sentido essa sensação oitentista, mas nunca pensei por esse lado, mesmo porque a história não se passa nos anos 80. Ainda não li ou assisti as obras que você citou, então não posso afirmar sobre a atmosfera, mas o conto nasceu para ser uma brincadeira de criança, mas se transformou “naquilo”.

3. Em 2013, você lançou “Medo do Escuro e Outras Histórias”, conseguindo vender inúmeros exemplares na Bienal do Rio de Janeiro. Existe alguma semelhança com o seu novo trabalho no que diz respeito ao gênero ou mesmo ao universo do livro? Melhor... Existe um compartilhamento de um mesmo universo?

A semelhança é ser também um conto (embora maior) e enveredar pelo mistério e pelo sobrenatural, e o terror é mais psicológico, como procurei fazer em “Medo do Escuro e outras histórias”, pois é o gênero que gosto mais.  

4. Quais foram suas maiores influências para a criação desse livro?

Esse conto foi escrito em 2014, depois de oito/nove meses parada. Foi o primeiro texto que escrevi quando fui morar em São Paulo e quis ambientá-lo na cidade. Acho que a influência que tive para escrevê-lo foi o clima nublado da cidade, além da minha própria infância. Simplesmente sentei na frente do notebook e comecei a escrever, sem fazer um esqueleto da história. Levei quatro dias jogando as ideias no papel. A princípio, seria um conto de apenas cinco páginas, mas foi crescendo, e as ideias mudando ao longo da escrita. Para mim, o resultado ficou melhor do que o que eu havia previsto.

5. “A Bruxa do Olho de vidro” passa uma sensação de realidade muito forte, como se a história fosse inspirada em fatos reais. O que tem a dizer sobre isso?

Não foi baseada em fatos reais e qualquer semelhança com fatos e personagens da vida real é mera coincidência. (Risos.) Quem me conhece sabe a dificuldade que tive para usar tantos números em uma obra só. Matemática nunca foi o meu forte... Mas acho que o fato de a minha infância ainda estar muito fresca na memória ajudou a causar essa impressão de realidade.

6. Percebe-se que você é mais voltada para o suspense e o terror. Você acha que esses gêneros estão em evidência no mercado literário brasileiro? Se afirmativo, a que você atribui esse sucesso?

Acho que o suspense e o terror estão alcançando mais os autores brasileiros, e consequentemente os leitores. Sempre haverá um público específico para todos os gêneros, mas acredito que o mercado literário tenha suas fases, e estamos na fase do thriller psicológico e do terror (embora ainda tenha muito para crescer). E temos autores muito talentosos que nem foram descobertos ainda, pois o preconceito dentro do cenário nacional quanto ao gênero não foi vencido por completo. Mas atribuo a evidência do gênero nesse momento a editoras que estão investindo, acreditando e publicando autores nacionais.  

"Literatura é uma forma de se libertar do que te aprisiona, é uma autoterapia, é um recurso para se buscar a si mesmo e uma forma de se encontrar em meio ao caos e à turbulência da vida."

7. O que podemos esperar da Maud Epascolato no futuro? Fale um pouco sobre seus projetos e outras obras literárias.

Tenho muitos projetos engavetados e que precisam de continuidade. Devido ao meu trabalho com revisão, que toma muito do meu tempo e do vigor mental, e do meu sofrimento para escrever, meu processo de escrita é muito lento. Nem eu mesma sei o que virá.

8. Sabemos que viver de escrita no Brasil não é uma impossibilidade, mas está muito longe de ser uma tarefa fácil... Conhecendo a sua perseverança e luta, te pergunto: o que você tem a dizer aos novos escritores que estão surgindo nesse campo? Qual dica ou conselho você deixaria para eles?

Viver só da escrita no Brasil é extremamente difícil. É possível viver de literatura, mas não de escrita, acredito. Grandes escritores brasileiros tinham e têm suas profissões fora da escrita. Clarice Lispector, por exemplo, vivia de tradução. Embora não seja um exemplo atual, vários escritores hoje vivem de dar cursos e palestras e têm suas profissões. Eu vivo de revisão de texto. Isso é viver de literatura, não de escrita. Mas aos novos escritores (e eu sou um deles), digo que se o que você escreve te faz feliz, escreva. Se o que você escreve é uma terapia, escreva. Se você se sente realizado escrevendo, escreva. Não espere reconhecimento imediato. Não espere dinheiro. Não espere aquela editora enorme e maravilhosa reconhecer o seu talento. Escreva o que gosta e o que sabe escrever, pois isso soará mais natural no papel. Escreva para se libertar. Se é o que você quer para sua vida, não desista, pois a partir do momento que você desiste dos sonhos, você desiste da vida. 

Para finalizar, vamos fazer um bate e volta literário!

Um livro que marcou a sua infância: O exorcista, de William Peter Blatty. (É sério! Foi meu primeiro livro de terror, e fiquei tão apavorada que só voltei a ler esse gênero aos 16 anos – Allan Poe, que eu não sabia que era terror na época.)
Um personagem: Annie Wilkes (Misery, de Stephen King)
Uma adaptação para o cinema que, na sua opinião, deu muito certo: O bebê de Rosemary. (Li o livro e vi o filme. Ficou perfeito!)
 Três escritores nacionais: Posso citar mais? Então lá vai: Robson Gundim (é você mesmo, rapaz!), Pâmela Filipini, Lucas Odersvank e Gabriel Tennyson. São novos talentos que merecem atenção e que gosto muito (e que acabaram se tornando amigos devido à admiração que tenho por eles).
 Se o seu livro “A Bruxa do Olho de Vidro” fosse uma música, ele seria: Nightbook, de Ludovico Einaudi.
Uma mania na hora de escrever: Um copo de água ao lado. E só.

Muito obrigado por ceder parte do seu tempo para essa entrevista, Maud! Que você continue a trilhar por um caminho de luz e de muito sucesso!

Maud Epascolato nasceu em 1979 no Rio de Janeiro e foi criada em Angra dos Reis. É escritora, revisora, professora, leitora compulsiva, apaixonada por gatos, pizza, chocolate, Allan Poe, Paul Auster, filmes, livros de psicologia, Carlos Ruiz Zafón, coxinha e suco de tangerina, não exatamente nessa ordem. Começou a escrever histórias policiais aos 14 anos, mas só veio a publicar vinte anos depois. Seu primeiro trabalho publicado foi o conto “Tempestade de Dezembro” na antologia O Último Dia antes do Fim do Mundo, pelo selo Ases da Literatura, da Editora Novo Século, em 2012. No ano seguinte, publicou MEDO DO ESCURO e outras histórias, seu primeiro livro solo. Participa também da antologia Conto dos 7, com “Encontro com a Morte”, lançada em 2014, disponível na Amazon. Possui também outros dois contos avulsos na Amazon: “Querida Mari” e “Ácido, Amargo & Triste”. Atualmente mora em Sorocaba com dois gatos, estantes abarrotadas de livros e pilhas infindáveis de filmes.

Com a Maud e o Pedro Almeida, na Bienal de SP (2016)

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