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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Conto: Um grito na escuridão



Quem nunca gostou de uma boa história de terror? De aventurar-se em locais inóspitos e estranhos, como casas abandonadas, cidades fantasmas ou aldeias vazias... O desconhecido sempre fascinou o homem. Apaixonado por livros de grandes mestres como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, escrevi um singelo conto em homenagem ao Stephen King, no ano de 2013, e o mesmo foi aceito para integrar a coletânea "The King", dividida em dois volumes na época. O meu conto chama-se "Um Grito na Escuridão", e de primeira mão, o divulgarei para todos lerem. Bons sustos.

Mansão Macabra (arte oficial do game Alone in the Dark IV)

“Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem.”
Stephen King

O casal parou o carro e saltou, observando sob um sol esplendoroso a altiva mansão. Eram donos de uma aparência jovial, embora o homem fosse mais velho. Ela, com um semblante análogo ao de uma boneca de porcelana e o corpo envolto num vestido de verão; beirava os vinte e sete anos, enquanto ele, tendo o rosto possuído pelas marcas da impaciência e a pele morena tostada pelo sol, estava acima dos trinta. Usava trajes convencionais, porém rústicos. Uma calça jeans repleta de remendos propositais e uma blusa de mangas cortadas, cujo emblema ressaltava a denominação da banda Skid Row.
Agnes continuou impressionada com a vista. Já Daniel demonstrou querer pular a parte do exame para descobrir quais segredos permeavam naquele solo místico e assustador, razão pela qual chegara ali. Fretara um veículo de algum conhecido e apanhara a namorada não muito tempo depois, dizendo-a, num riso escancarado, que o seu “entediante” domingo finalmente seria melhor. É claro que a aventureira Agnes aceitou a proposta sem hesitar, consciente de que subiriam a colina mais afastada da cidade e com as veias pulsando de emoção desbravariam uma lenda que há mais de um século se arrastava por entre os povos de sua terra.
“Casas sempre são interessantes”, pensou a moça, encarando o frontão do prédio. “Há aquelas que abrigam as famílias; onde a harmonia parece ser eterna, e há também as casas deprimidas; geralmente adormecidas em virtude do abandono ou, no caso desta, especialmente tristes por causa dos fantasmas do passado”.
No geral, a mansão não deixava de ser um domicílio comum, à exceção de sua beleza, quase que atemporal. Tinha a roupagem das antigas casas georgianas, com ornatos espiralados que pareciam criar vida cirandando sobre as portas de carvalho e estátuas de querubins adormecidos — senão mortos — dependurados em nichos vazios. Foi erguida na ponta de um penhasco, sendo sustentada por rochas pontudas e grosseiras que suportavam os paredões e as medianas torres. Um dia foi banhada pela nobreza, habitada por presenças notáveis e utilizada como referência nos altos escalões da sociedade. Hoje, descansava no abismo do silêncio, tendo como principal habitante uma gigantesca hera que crescera e invadira através das janelas.
— Vamos logo — apressou Daniel, um pouco à frente.
— Espera...
Agnes continuou hipnotizada e deslocou a face de cima para baixo, na direção da mata que afundava ao redor da construção. Percebeu que a floresta descia no embalo do declive, cobrindo as rochas e cascatas que moravam lá embaixo, com rumo ao inacabável.
O sentimento prazeroso e ao mesmo tempo macabro foi um fato veraz, mas a sensação causada pelo lugar, como supunha Agnes, fez-se presente em sua vida feito uma doença incurável. As árvores mais próximas, em galhos secos despontados, inclinavam-se em direção a casa. Daniel não soube explicar, mas ao encará-las sentiu um medo indescritível lamber-lhe o corpo e a alma.
— Se você quiser entrar comigo, é bom que venha logo, antes que eu me arrependa.
— Arrepender-se? — disse Agnes num risinho, com a testa franzida. — Acaso mudou de ideia? Ou será que está com medo da casa assombrada?
Visivelmente envergonhado, Daniel ignorou-a.
Ela subiu os degraus que davam para a porta da entrada e ficou ao lado dele, pensando de qual forma poderia entrar.
Ficaram em silêncio, tentando captar qualquer ruído que procedesse das entranhas da mansão. Não houve nenhuma resposta para a sua pergunta emudecida. A casa ainda dormia, estava entregue à quietude fantasmagórica que a ostentava.
— Como entraremos?
Respondendo à namorada, Daniel alçou os dois braços e empurrou a porta velha, que num rugido pedregoso e alongado escancarou-se.
O casal petrificou-se, deparado com a imagem resvalada em poeiras. Antes de darem o primeiro passo, entreolharam-se com seus glóbulos elevados e sorveram da atmosfera antiga, pensando se deveriam aceitar o chamado da casa, que acabara de despertar.
Agnes conseguiu escutar o ronco animalesco e o rugido quase oculto do bocejo; possivelmente vindo do andar superior, arrastando-se pelos corredores e pousando no cômodo em que estavam.
— Que lugar sinistro — comentou Daniel, caminhando lentamente sobre o piso do salão principal. — Flagra só esses móveis, as paredes, e aquelas escadas!
A sala era de uma amplitude descomunal e potencialmente mobiliada — uma mobília que fazia jus à fortuna da família que vivera ali. Havia pisos assoalhados, paredes revestidas por carvalhos e tapeçarias que deslizavam sobre os degraus da escadaria. O teto era enriquecido por lustres de ouro e prata, tendo ao centro uma grande cúpula vitrificada que reluzia ao fulgor do sol. A família a qual pertencera a poderosa propriedade — denominada Obed’s Manor — viera do estrangeiro. Alguns dos aldeões os conheciam muito bem, e por isso diziam que o velho Jeremy, o verdadeiro escultor de Obed’s Manor, fora um afortunado administrador em Boston. Engenheiro, com talento e sucesso ele fez muita fortuna a partir de seus projetos e conheceu, durante a sua mocidade, uma bela atriz de cinema da América do Sul. Os mais próximos alegaram que Jeremy não constituía apreço pelo sul, sendo a atriz a principal responsável por fazê-lo mudar-se para lá — o solo onde Agnes e Daniel demonstraram interesse e curiosidade. O que não esperavam, todavia, era senti-lo profundamente na própria alma, que lhes implorava num estertor absoluto para imediatamente saírem dali.
Na medida em que a namorada observava os contrastes nobres da mansão, Daniel sentia-se incomodado por uma força que lhe arrancava a paz. A ideia inusitada de invadir Obed’s Manor fora dele, mas uma terrível agonia o assaltava agora, gritando para reverter os passos e se ver livre das garras daquela diabólica morada. Uma de suas maiores teimosias, contudo, era não escutar o próprio instinto. Por essa razão, decidiu persistir no desvendamento de Obed’s Manor, o ambiente mais interessante que já conhecera...

O conto continua. Se você quiser saber o resto da história, acesse o meu perfil no Wattpad e leia o final de UM GRITO NA ESCURIDÃO.

Abraços,

Robson Gundim

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