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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Castlevania - O feitiço sobre o caçador

Obs. Esta é uma fanfic que foi apresentada na última Bienal de SP, destacando aos leitores a importância de Castlevania para a minha saga literária.
Levar em consideração que o conto a seguir trata-se de uma homenagem a série Castlevania, honrando o caráter da mesma e apresentando uma teoria acerca dos atos que remetem a vida de Richter Belmont, no período entre o “Rondo of Blood” e o “Symphony of the Night” (desde a batalha contra Drácula até a loucura causada pelo feitiço do padre Shaft).


Ele era observado todos os dias pela esposa, que parada diante da casa, via-o desaparecer além da montanha, pongado na sela de um frisão.

Ela observava-o, apaixonada e orgulhosa, comparando-o aos filhos dos deuses do olimpo. Amava-o sobre todas as coisas, e não simplesmente por ele ter sido seu único salvador; nunca em toda sua vida sentira tamanha paixão e abstração por alguém. A imagem sempre se repetia, e ela se acostumara...

Ele subia a elevação, urrando para o animal, parecendo destinar-se ao paraíso (porque o sol descia no horizonte lhe desfocando lentamente), e enquanto isso, parada, ela deslizava a mão sobre o avental, embargada de saudades.

A imagem era linda e passageira, tal qual o fenômeno do entardecer. Naquele dia, contudo, as coisas mudaram drasticamente. Annette sabia que Richter cruzaria a montanha, e que não deixaria nenhuma pista de seu paradeiro ou qualquer previsão de sua volta.

Richter Belmont atingira uma fase da vida que é difícil de explicar com exatidão. Depois do 'acontecido' envolvendo a queda de um castelo que fora erguido no cume de um penhasco transilvaniano, ele sofreu uma terrível metamorfose. Seus hábitos nesse tempo se resumiam a cavalgar, trabalhar no campo e zelar pela segurança de Annette, que fora uma das vítimas trancafiadas em Castlevania – a morada do Conde Drácula.

Richter Belmont, dito por muitos dos aldeões como o último membro vivo de sua sagrada família, tem o rosto inocente; os olhos são de um azul lúdico e profundo, e raramente descansam. É alto, atraente, marcial, dotado de grandes habilidades e capaz de realizar incríveis esforços. Seus cabelos são de um tom louro mais tendido para acastanhado. Ele é descontraído, temerário e destemido. Muito respeitado pelos aldeões de Verossa, conseguiu tornar-se um guerreiro renomado por empurrar Drácula para o abismo e livrar sua terra de uma catástrofe colossal. Apesar do poder e da conquista, jamais trocou as terras férteis de seu campo pelas vias sinuosas das grandes cidades. Era uma das qualidades mais apreciadas por Annette.

Annette Renard foi salva por ele em uma noite de 1792, e junto a ela, uma garota de notáveis dons chamada Maria também foi resgatada. A pequena Maria passou a ser considerada por Annette uma verdadeira irmã. Andavam quase sempre juntas, fosse cuidando de sua casa de campo, visitando os vilarejos ou colhendo frutos e flores. Todos as admiravam, considerando o seu zelo e a forte união um raro exemplo de humanidade.

Por mais que ambas se assemelhassem física e até espiritualmente, não portavam o mesmo sangue. Mas essa questão não lhes conferia importância, porque o legítimo valor se encontrava na alma, em vez da carne.

Annette era uma moça de bons modos, delicada e formosa. Dona de uma beleza inesquecível. Seus olhos brilhavam como a luz do sol, e os cabelos louros cintilavam como se a noite não existisse. Para ela, a suprema dentre todas as belezas se encontrava na estrela da manhã, por essa razão venerava o sol nascente.

Maria recebeu o sobrenome de Annette após serem resgatadas por Richter. Daí por diante, a garota passou a seguir os passos e os atos da irmã mais velha por toda sua adolescência, até atingir tranquilamente a fase adulta.

Após sua conquista na batalha contra Drácula, Richter passou por uma fase complicada e agiu feito um homem velho e cansado, muito embora ainda estivesse na casa dos vinte anos. Nos fins dos dias, sentava-se numa velha cadeira que pertencera a seu pai, na varanda, e observava Annette, maravilhado. Sua esposa tinha um corpo escultural coberto por vestidos frondosos, e uma alma de camponesa que jamais deveria ser comparada a qualquer outra. Não sabia e não sentia-se capaz de externar aquilo que o fraquejava, apenas alimentava no peito o anseio de buscar respostas para suas dores.

Annette não o percebeu no começo, em virtude da expressão de felicidade que julgava ser franca no cenho de seu esposo.

Ele vivia entristecido por dentro, ao passo de que ela vivia feliz, sorrindo livremente, aspirando a grandeza do amanhecer e ensinando tudo o que lhe fora passado para Maria, sem ater-se aos sentimentos macambúzios do homem que com o passar dos dias foi perdendo o azul lúdico dos olhos.
Qual sentido havia naquela mudança tão estranha? Teria sido o grande esforço imposto na batalha? Ou quem sabe os pesadelos das noites invernais do Apuseni?

No primeiro ano após a batalha, Richter honrou os velhos hábitos – cavalgava, explorava as montanhas e zelava pelas mulheres de sua casa. Prestava serviços em nome da igreja, pagava um pequeno tributo ao império e garantia a fertilidade de suas terras. No entanto, a situação foi de mal a pior quando ele se escafedeu de casa após uma noite insone repleta de pensamentos incomuns. Esse fato ocorreu dois anos mais tarde. Annette dormia ao seu lado, abraçada ao seu corpo, quando ele a deixou; partiu meia hora antes do sol acender, fazendo com que Annette e Maria ficassem transtornadas.

Como eram muito saudáveis e haviam passado por diversas penúrias em Castlevania, as duas trajaram vestes de amazonas e apanharam dois cavalos velozes, partindo para todos os vilarejos a procura do jovem Belmont, que era famoso na região por ser um exímio caçador. Viraram noites em claro, clamando o nome de Richter por onde quer que fossem e chamando a atenção dos camponeses e ciganos que brotavam em sua estrada.

Passaram-se dias, semanas e meses... Nenhum sinal do guerreiro.

Cabisbaixas, as duas resolveram voltar para casa, antes que alguém a invadisse. Quando lá chegaram, foram tomadas pela surpresa; Richter havia regressado. Encontrava-se, todavia, numa situação precária e deplorável: a vestimenta rasgada, feridas espalhadas no corpo inteiro e sinais trágicos de luta sobre a pele tostada pelo sol. Os olhos estavam fragilizados – não tão azuis quanto aqueles cheios de água que obtinha – e uma sonolência arrasadora parecia apossar o seu espírito...


Para ler o conto completo, clique AQUI.






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