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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Por trás das faces dos personagens

Hoje lhes apresento um assunto que eu particularmente adoro abordar: as referências e as maiores curiosidades sobre um livro. E desde já lhes adianto que este assunto interessante será frequentemente utilizado aqui no blog, devido a imensa bagagem de informações acerca das minhas influências e paixões. Os personagens retratados aqui serão os dois principais. E não coloquei os demais por serem menos importantes; como a Annette e o Richter lideram no topo da montanha e possuem mais curiosidades que os outros, foi mais sensato começar pelo casal. Tudo bem? Então se aconcheguem, preparem um tema instrumental e relaxem, a postagem vai começar!

Richter Belmont e Annette Legrand

Toda boa obra — pelo menos a maioria — provém de alguma influência, seja literária, artística, musical, cinematográfica, ou mesmo os quatro fatores (que é o meu caso!). Como um seguidor fiel dessas artes, atravessei todo o período da minha infância curtindo bons livros, boas músicas, bons quadrinhos, bons jogos também e, é claro, bons filmes. Tudo o que eu vivi de extraordinário através dessas paixões contribuiu para o nascimento de uma paixão ainda maior e mais forte; a escrita e o desenho. E foi aí que eu percebi que nenhuma barreira se interpolaria em meu caminho se eu tão simplesmente pensasse, esboçasse algo e disciplinadamente escrevesse. (Obviamente enfrentei muitos bloqueios criativos, no entanto eram por vezes corriqueiros, e como eu era muito novo, não me importava com as imperfeições dos textos!). Lendo, observando, ouvindo, jogando e assistindo toda aquela “mescla cultural”, eu aprendi a lidar melhor com os personagens e a compreendê-los posteriormente, muito embora eu ainda necessitasse de mais aprendizado para chegar aonde eu almejava.


A questão é que meus personagens principais de ENTRE O CÉU E O MAR – NOS MONTES DA INOCÊNCIA nasceram diretamente dessa fonte que havia sido preenchida lá atrás; e foi em meados de 2002 que eu iniciei o prospecto do livro (se eu não me engano, no segundo semestre do ano, e nessa época eu tinha 13 anos). Comecei a imaginar parte da trama e a observar os dois personagens em ação (que nesse caso eram a Annette e o Richter). Ambos vieram diretamente da “mescla cultural” que tanto me fascinava, impulsionando-me a matutar mais e a estudar uma forma de mantê-los originais — e vivos. Hoje quando eu paro no tempo e me recordo daqueles momentos tão únicos, dou risada sozinho e confesso a mim mesmo o quão perfeita foi a minha infância. Algo, talvez, até banal a outros olhos, mas aqueles instantes fizeram, fazem e farão parte da minha história de vida até o dia em que eu me for. Eu enxergava meus personagens, de olhos fechados, e escutava a trilha de suas histórias. Tudo parecia certo, perfeito. Eu só precisava do ajuste, da caneta... e do papel.

Richter Belmont, Castlevania (1997)
É amplamente interessante ressaltar que desde o primeiro momento, mesmo quando o livro se tratava de um embrião, eu já alimentava a ideia de torná-lo real com algumas ilustrações, pois o desejo de fazer com que o mundo enxergasse a Ann e o Rich exatamente da maneira a qual eu enxergava, se fortalecia dentro de mim; e por uma questão de palavra e honra — momento drama — eu tinha de fazê-lo. E a ideia de ilustrar surgiu por causa de duas influências... A primeira porque eu já desenhava com frequência (bem tortinho, diga-se de passagem rsrs); e a segunda porque eu jogava Castlevania (uma série maravilhosa que me conquistou a primeira vista em todos os sentidos e contribuiu muito para a minha escrita) e um dos personagens centrais logo me chamou a atenção (aos fãs, me perdoem, mas não foi o Alucard), sim; eu estou falando do próprio Richter Belmont.

Eu tenho quase certeza (99% de certeza, pois ainda acredito na possibilidade de algum outro ser humano pensar igual a mim nesse sentido) que quase NINGUÉM enxergou Castlevania do modo o qual eu enxerguei (talvez por essa razão eu me inspirei em um jogo taxado de “terror-aventura” para escrever um romance?)... Não sei. Mas voltando ao tema do post, mesmo sabendo que eu poderia inserir anteriormente um terceiro motivo, falarei agora sobre o escritor brasileiro Marcos Rey, que também me inspirou bastante. Ele integrou a antiga série literária Vaga-Lume, da clássica Editora Ática (fez um enorme sucesso nas escolas e nas bancas), e todos os livros de sua coletânea eram ricamente ilustrados, desde a capa até os capítulos! Pense no prazer que era ler aquelas historinhas cheias de aventura e suspense acompanhadas por imagens ilustrativas? Era demais! E isso me iluminou tanto, que eu não conseguia imaginar mais o meu futuro livro sem a presença brilhante das ilustrações (que por sinal, seriam feitas por mim também, ainda que saíssem tortinhas).

O livro de Marcos Rey ao lado do meu... Vejam as ilustrações!

Eu me lembro que somente em 2003, quando eu já era um seguidor fiel de Castlevania (eu encontrei a saga em 2001), conheci duas grandes atrações do cinema, que foram “Piratas do Caribe 1” (onde eu conheci a lindíssima Keira Knightley), e a série de TV “Tarzan”, (eu já tinha conhecimento da obra literária, pois havia assistido alguns filmes antigos e também ao clássico da Disney, que é um dos meus filmes de desenho favoritos).
A trama de Tarzan sempre foi uma das minhas prediletas. Eu gosto desse tema selvagem, estilo King Kong, onde "homem" e "fera" batalham e lideram no mesmo campo, cujos cenários nos transportam para as savanas imaginárias, africanas ou as selvas primitivas. Ressalto aqui a obra LENDAS DO OUTONO, de Jim Harrison, que apesar de não abordar nada sobre a África, nos conta quase que poeticamente uma história sobre a distinção entre o homem e o animal (Um guerreiro criado em território indígena ao lado de um urso). Vale muito a leitura... Mas enfim, voltando ao Tarzan, o livro é perfeito, um dos mais tocantes e psicologicamente “humanos” que eu já li. A série de TV, no entanto, não foi tão memorável assim, até porque a produção trouxe o Tarzan para os nossos tempos, e para piorar; deixou-o no coração de Nova Iorque, perdido nas grandes avenidas, enquanto Jane Porter, uma detetive, resolvia alguns casos na grande cidade... Apesar desse absurdo completo, a série me conquistou, pois os personagens eram carismáticos e as reviravoltas conseguiam mantê-la sempre ao ar. Era estrelada por Travis Fimmel e só teve uma temporada (foi cancelada no fim do ano).

Quem já leu o meu livro, precisamente falando de NOS MONTES DA INOCÊNCIA (2013), sabe que o Richter é um homem bastante reservado, misterioso, dono de uma forte personalidade e possui uma forte ligação com a natureza. Richter é, claramente, tanto uma homenagem ao Tarzan, quanto ao próprio Richter Belmont de Castlevania, por nutrir esses predicados que o classificam, por vezes, uma criatura “sobre-humana”. Na série Castlevania, Richter é um guerreiro sagrado, descendente de uma família abençoada que destinou-se a aniquilar o Conde Dracula, na Transilvânia (a estória é repleta de aventura, fantasia e muitas influências do livro de Bram Stoker). Em NOS MONTES DA INOCÊNCIA, Richter nasce trazendo em seu peito uma cicatriz em forma de cruz, motivo pelo qual muitos o classificam uma criança abençoada. Ele já nasce órfão, em uma cidade fictícia da Transilvânia, na região montanhosa dos Montes Apuseni, e vai viver em um rancho sob os cuidados de Loweed Schwartz (quem o adota a pedido da falecida mãe), e cresce livremente ao lado de uma garotinha chamada Annette Legrand.

Annette Legrand é uma personagem forte e especial, no entanto sem muitas raízes referenciais quanto o Richter. Ela basicamente representa a mulher guerreira de sua época por N fatores (não posso destacar todos eles em pormenores, mas quem leu UMA ODISSEIA ALÉM DO OCEANO sabe do que eu estou falando). Annette — e o leitor precisa saber — é a personagem do bem. Ela faz o bem e carrega uma alma bondosa. Devido a alguns empecilhos, ela sofrerá drásticas perdas e passará por uma mudança radical, a ponto de se transformar em uma saqueadora e desbravar os mares na companhia de terríveis piratas (entendam aqui agora a influência de Robert Louis Stevenson). Mas o fato é que Annette e Richter juntos integram "o casal" do livro, e por vezes,  eles enfrentam algumas diferenças... Ela veio de um berço aristocrata, estudou na cidade grande, noivou-se com um herdeiro de um conde e, apesar de amar Richter, ela mantém e respeita seu laço com o noivo. Quando adulta regressa ao rancho onde passou parte da infância, e assim descobre que estar com Richter é o mesmo que estar “desacorrentada” da esfera radical da sociedade. A loura que futuramente atravessará o mundo com piratas não quer ser dona de casa, casar em uma igreja e ser mãe. A loura quer cavalgar; quer correr sobre os campos; escalar as montanhas; caçar no interior das matas e visitar os bares na companhia de Richter (por sinal, o Richter aqui é um formidável caçador).

Na série Castlevania, a esposa de Richter chama-se “Annette Renard”, e eu adotei seu pré-nome à minha personagem para honrar essa união. Como um fã, eu não gostaria de ler um livro atual que, em cujo tributo ao Burroughs, a personagem da Jane encontra e se apaixona por algum homem de nome distinto ao de John Clayton ou Tarzan, pois certamente desonraria a obra original (opinião minha). Contudo, se trata de uma homenagem. Eu poderia criar uma história de artes marciais, com personagens chineses, e nomeá-los de Jane e Tarzan, e ainda assim muitos entenderiam a jogada. Mas apesar disso, meus personagens são muito diferentes e externam seus próprios predicados e personalidades...
Assim nasceu então o casal principal da minha primeira saga literária, e a partir daí, conforme o avançar do tempo e do meu aprimoramento como escritor e desenhista, comecei a trabalhar na parte artística do livro, mesmo sem antes tê-lo finalizado (ainda faltavam muitas coisas mesmo). No ano seguinte ao qual eu dei início ao prospecto do livro, em 2003, eu conferi, em um daqueles trailers de filmes que vinham nos extras dos DVDs originais, um teaser do mais novo filme de Quentin Tarantino: Kill Bill volume 1, e jamais imaginaria que, tempos mais tarde, estaria eu me tornando um dos fãs mais “fanáticos” desse diretor visionário e “insano”. Em 2004 vi Kill Bill nas telonas e foi inesquecível! Eu não preciso dizer que Kill Bill é um filme AMPLAMENTE rico em termos técnicos, e do mesmo modo em termos no que diz respeito as referências datadas por Tarantino. (Eu poderia escrever um livro inteiro sobre as cenas e os personagens que o filme homenageou, mas sinto que o leitor já sabe de tudo!) E nem foi bem essa parte de Kill Bill que me encantou de cara... Foi a fotografia e o visual do filme; o estilo tarantinesco e o meu amor a primeira vista. Os takes... As cores... As trilhas sobrepondo os momentos mais tensos... Tudo aquilo me fascinou a nível hard e me elevou ao quadrado.

Eu precisava ilustrar meu livro mais do que tudo agora, levando um pouquinho daquela marca de Tarantino (algo meio dramático que retratasse o teatro, ou mesmo simbólico, como os cenários preenchidos por determinadas cores e tons, que eram o fundo). O cinema, definitivamente, entrou na minha vida como uma inspiração, porque eu já conseguia (e tinha a proeza também) de enxergar meu livro como um filme — mesmo sem ser um filme — e daí veio-me a mente a ideia de utilizar atores reais para serem meus personagens... (Como assim, Rob? Ficou doido?) Não. Eu acho que não fiquei. Eu estudaria minuciosamente as faces dos meus atores favoritos, e a partir dos rostos deles — como ocorre nos modelos para personagens de jogos ou quadrinhos — eu desenharia os guerreiros que domariam as páginas do meu livro. Essa ideia perdurou por anos na minha mente, por muito tempo mesmo, até eu concluir o livro em 2012 e FINALMENTE iniciar as artes oficiais. Mas antes eu já havia feito muitos rabiscos, model sheets e testes com um “elenco” que eu havia selecionado ainda há muito tempo. O elenco completo de alguns personagens eu deixarei no final da postagem, mas explicarei aqui sobre a semelhança do nosso casal principal com os dois atores centrais.

Confiram abaixo — e em detalhes — as maiores similaridades deles com os respectivos atores.


Annette Legrand / Keira Knightley



Eu conheci a Keira Knightley (como todos já devem supor) no super bem sucedido Piratas do Caribe 1, em 2003. E seus cabelos louros e olhos profundos me encantaram intensamente, a ponto de me fazer enxergá-la como minha Annette! Na época eu não pensava muito a respeito, mas com o passar do tempo, conforme a Keira foi fazendo outros grandes papeis em diferentes e belíssimos filmes (tal qual Rei Arthur, Orgulho e Preconceito, e a continuação da saga de Piratas, por exemplo), eu decidi finalmente desenhar seu rosto para ilustrar minha personagem. Além de muito bonita, Keira sempre me transpareceu simpatia e humildade, e esse pequeno “desprezo” dela pela publicidade me encanta, de alguma forma... Há, é claro, outras particularidades, o que tornou a influência ainda mais inspiradora. Keira nasceu na Inglaterra, adora literatura clássica, transformou-se em um verdadeiro ícone em filmes de época, viveu grandes personagens literários (desde Elizabeth Benneth à Anna Karenina) e conquistou numerosos fãs com sua personagem pirata, a Srta. Swann. Como não escolhê-la? Ela era a atriz per-feita para ser, nas folhas de ENTRE O CÉU E O MAR, a aventureira Srta. Legrand!


Richter Belmont / Travis Fimmel
Foto de Travis por Tony Duran, Flaunt Magazine (2014)


Coincidentemente eu conheci o Travis Fimmel em 2003, no seriado de Tarzan que citei ainda há pouco. Travis, ao contrário da Keira, não seguiu a carreira tão firmemente após o seriado cancelado (mas logo o leitor irá entender). Sempre o considerei um bom ator (e hoje existem muitos trabalhos para comprovarem isso), carismático e muito simpático, e carrega um pouco desse caráter misturado ao absoluto fascínio pela natureza, atributos do meu personagem. Travis nasceu no interior da Austrália e só conseguiu a oportunidade de atuar após realizar uma série de campanhas como modelo para a Calvin Klein. No entanto, o negócio do futuro ator não estava pautado na moda. Ele conseguiu o papel de John Clayton no seriado Tarzan e, assim, ingressou nas aulas de teatro. Após o término da série, regressou a Austrália para a fazenda de seus pais e, desde então, só deixa o lar para a realização de alguns filmes. Em uma entrevista para a revista Flaunt desse mês, ele respondeu:

“I love the country. It’s hard to explain. When you grow up in the country you just enjoy it so much. I love animals and I love trees and anything country.” 
“Eu amo o campo. É difícil explicar. Quando você cresce no campo você gosta tanto. Eu amo animais e eu amo arvores e tudo que envolve o campo.”

Travis vive atualmente nesse mesmo rancho, e lidera o engenhoso cast de uma das mais conhecidas séries de TV chamada “Vikings” (que por sinal, é uma série extraordinária, com um impecável fundo histórico, abrangendo muitas navegações, cultura nórdica e batalhas navais!). Sem sombra de dúvidas, mesmo após ocorrer quase dez anos desde a escolha para ser o indomável Richter, o Travis valeu a pena!


Assim como outros atores que me serviram de inspiração nas artes, Travis Fimmel obteve conhecimento da existência de um desenho de Richter por meio da nossa querida internet. Mas ainda mantenho o sonho de poder apresentar, não somente a ele, mas a Keira e aos demais artistas que muito longe se encontram, os singelos traços das vidas que eles contribuíram para serem retratadas em ENTRE O CÉU E O MAR.

Confiram agora todos os atores que eu homenageei no trabalho artístico contido nos três livros, tanto nos dois volumes de NOS MONTES DA INOCÊNCIA quanto no único UMA ODISSEIA ALÉM DO OCEANO:

Vasseur Legrand — Gaspard Ulliel
Adele — Maia Morgenstern
Loweed Schwartz — Anthony Hopkins
Vincent Martinez — Bill Nighy
Nicholas Willefort — Rupert Friend
Charlotte Renard — Alina Vacariu
Megan Wilde — Elena Anaya
Jack Bennett — Guy Pearce
William Angkatell — Rupert Evans

Espero que tenham curtido a postagem de hoje, tripulantes!
Até a próxima!

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www.facebook.com/entreoceueomar 





3 comentários:

  1. Eu tive um professor de literatura na faculdade que dizia, toda santa aula, o seguinte: toda leitura não passa de uma releitura, ou de uma obra, ou do mundo. Vendo essa postagem, a frase dele ecoa em meus pensamentos.
    Se formos reparar no processo de escrita dos livros, praticamente todos os escritores tem um modelo, ou pelo menos, uma fonte de inspiração. Nem mesmo Tolkien criou seus personagens do nada. Cada autor vai incorporando um pouco dos seus antecessores e dando um ar de si mesmo nas obras.
    Eu tinha reconhecido o nome dos personagens de algum lugar, mas não lembrava de onde. Na minha infância, joguei Castlevania, mas não com tanta frequência como você. Adorei conhecer um pouco mais da obra.

    M&N | Desbrava(dores) de livros

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    1. Que belíssimo comentário! Obrigado pela atenção. De fato, sempre iremos carregar um pouco dos nossos ilustres "mentores", porém honrando o estilo próprio. Castlevania fez parte da minha infância de uma maneira a qual eu nunca vou me esquecer!

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  2. Queria ganhar seu livro!!!

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